quinta-feira, 9 de junho de 2011

O corvo diz nunca mais

 João Damásio

            Ícone mundial do mau agouro, o corvo vem de longe. De 1845. Quando nem mídia existia. Ele vem atazanar o século XXI com sua famosíssima elocução transcrita por Edgar Allan Poe: “Disse o corvo, ‘Nunca mais’.”
            Clamores pretéritos não encorajam a juventude que só ouviu o corvo. Os jovens dos anos 60, velhos de hoje em dia, nos dizem: Não há nem sinal das frases de outrora, a juventude morreu! Isolados em qualquer boate, os tatuados e os roqueiros não gritam mais o hino pinkfloydiano, Another brick in the wall. Ah, esses roqueiros de hoje em dia curtem frases curtas, ritmos mansinhos... E repetem “Que você me adora e que me acha foda”, como grito de guerra. Tem base?
            De que nos valeu a Diretas Já nos anos 80 ou a Eco 92 e o Protocolo de Kioto? Afinal, hoje o mundo explode em corrupção e desmatamento e os jovens não estão nem ai. Ouvi dizer que existe o Coletivo Jovem de Meio Ambiente, mas para eles a saída é educação ambiental. Que educação ambiental que nada! O certo é punir e castigar os destruidores da Amazônia! Não é? E eles ainda me chamam de ignorante.
            Antigamente, havia movimentação e protesto dos Black Powers e dos punks. Já hoje, não vejo mais do que esses jovenzinhos calça-pintada, na vibe de roupas coladas e coloridas a la Restart (que é isso mesmo hein? Ah, sim, uma banda pop!). Prossigamos.
            Para finalizar, o pessoal ainda vem me dizer que hoje em dia, tudo você pode fazer pela internet. Melhorar o mundo pela internet? Ah, tenha dó! Outro dia me contaram que existe um site chamado www.avaaz.org e que, a partir dele, milhões de pessoas se manifestavam. Mas cadê as cornetas? E as faixas enormes? Não vão mais sair às ruas?
            Bom, dizem que isso tudo é só uma forma diferente de se manifestar num tempo de transformações midiáticas, mas, por enquanto, acho que alguém tem que falar, alguém tem que bradar. Eu só ouço o corvo dizer que nunca, nunca mais irei reencontrar aquele tempo... E no fim das contas, eu sou o corvo.

João Damasio é aluno do quarto período de jornalismo
Da Faculdade Araguaia.

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